Lucidez Sombria
Os dias já passam de forma mais lenta,
Já não consigo mais correr e nem esperar,
Parece que tudo apenas acontece,
Sem um motivo, e também sem hora...
A tentativa falha de procurar uma saída me cansa,
Em vinte e quatro horas tentando pensar nada me vem,
Na manhã que já tenho que sair tento parar e observar o mundo à volta,
Talvez um estado de contemplação anime minha alma,
Porém, quando paro para procurar algo que ao menos posso dizer o que é,
Um vento forte já sopra o rosto me mostrando o que não queria ver,
Mesmo com uma natureza tão verde e o brilho iluminado do sol,
Não consigo ver nenhuma outra cor além do cinza...
De certa forma, consigo ver um pouco além do que meus olhos normalmente enxergam,
Por mais que relute, é como se já soubesse cada passo e cada fato,
Como se cada olhar estivesse estampado o grupo social que a pessoa se mostra pertencer,
Mas mesmo de forma vazia, o pertencendo, mas ao mesmo tempo sem se identificar,
Não é uma espécie de julgamento, é algo automático,
Poderia dizer até onde elas irão e quando voltarão,
Poderia dizer até a nota que eu iria tirar em um teste, ou se algo bom irá acontecer,
E essa cor cinza, na rua, de certa forma invisível, porém, residente em todo local me espanta,
Como se o céu não fosse mais azul...
As pessoas que por essa rua andam, estão de uma forma que não sei explicar,
Parecem viver de forma automática e fria,
Simplesmente... Não tenho palavras para dizer isto de forma clara,
É como se não houvesse sentido, como se não houvesse um porquê...
Talvez vivendo apenas sem nem se perguntar onde isso vai dar,
Ou se perguntar, “Por que faço isto?”
Como se fosse uma prisão e todos estivessem presos...
E refletindo em meu canto enquanto observo os passos frios,
Vejo um espelho, que ao me ver, não há tanta surpresa,
Mas ao mesmo tempo uma certa conformação,
Minha face não reflete o que esperava ver,
É como se ainda olhasse todas aquelas pessoas vivendo de forma fria,
De certa forma, é como se meu corpo e eu, fossem diferentes do que eu imaginasse,
É como se nunca tivesse me visto, e olhasse em meus olhos pela primeira vez...
Me via como alguém que está preso na mesma prisão que todos estão,
Mas de uma forma diferente, alguém que nem mesmo consegue ser igual aos outros,
Mesmo não sabendo responder se essa diferença é boa ou ruim, talvez seja algo neutro.
A sensação de medo até já nasce um pouco,
E volto então a observar as pessoas andando ao longe,
Ainda continuavam em sua caminhada em círculos,
Dentro de um ciclo sem fim, como se estivessem condenadas,
E isso apenas aumenta o medo.
A noção de espaço já diminui tanto,
Que não consigo dizer que há algo dentro daquela casa verde ao longe,
Não consigo dizer que o Universo é maior do que a rua que vou e volto todos os dias,
Nem ao menos dizer que há algum lugar pra ir ou pra ficar.
É uma sensação estranha, impossível de descrever,
Mas, junto com o momento de espanto,
Há o novo e estranho conforto,
Um conforto no frio sem abrigo...
Talvez até um momento de percepção,
Um momento de contemplação pra ser mais exato,
Quando ainda, para encerrar olho para o chão,
E não sei dizer se ainda é possível ficar de pé ou se apoiar,
Que me faz logo julgar... É aqui mesmo que deveria estar?
Tantas pessoas nesse vai e vem, talvez fugindo ou talvez, nem saibam onde estejam...
Talvez esse momento possa simplesmente ser chamado de lucidez,
Onde todos vivem num momento de embriaguez e de dispersões...
Sim, é isso, um momento de lucidez...
Um momento que inconscientemente muitos fogem...
Por isso resolvi chamá-lo de Lucidez Sombria.
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